Nossa busca por compreensão emocional começa no nosso próprio hardware: o cérebro. Condições como o Transtorno do Espectro Autista (TEA) nos mostram que a desregulação comportamental nasce de diferenças estruturais na conectividade neural e no processamento sensorial. O comportamento atípico, aqui, é geralmente involuntário, uma reação a um mundo sensorialmente avassalador, não uma escolha intencional de causar dano. No polo oposto da intencionalidade, temos o Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS). Aqui, a neurociência aponta para um déficit afetivo crucial. Indivíduos com TPAS frequentemente exibem hipoatividade do Córtex Pré-Frontal e diferenças na Amígdala, a região cerebral ligada ao medo e ao remorso. Eles compreendem cognitivamente as regras sociais e a dor que causam, mas a ausência do "freio" emocional lhes permite escolher o comportamento predatório ou manipulador para benefício próprio. A sociedade, portanto, estabelece a distinção: o cérebro pode explicar...
Você se deparou com algum dos discursos que exaltam a autonomia individual como se ela fosse uma solução para todas as dores humanas? Frases como “a felicidade só depende de você” ou “ninguém pode te ferir se você não permitir” proliferam em livros de autoajuda, palestras motivacionais e até mesmo em terapias superficiais. No entanto, essa visão, quando tomada como verdade absoluta, corre o risco de transformar-se em uma forma de alienação e narcisismo. Ela nos leva a ignorar que a vida não é uma experiência isolada, mas um tecido coletivo, marcado por relações e estruturas sociais que nos moldam e nos atravessam. Se cada pessoa passasse a viver apenas “no seu próprio mundo interno”, o que aconteceria com as dores compartilhadas, como o feminicídio, o racismo, o abuso infantil, a pobreza? Essas não são dores individuais, mas feridas coletivas. Quando falamos de violências estruturais, o silêncio e a indiferença são cumplicidade. Ignorar um morador de rua ou tratá-lo como invisível...