Você se deparou com algum dos discursos que exaltam a autonomia individual como se ela fosse uma solução para todas as dores humanas? Frases como “a felicidade só depende de você” ou “ninguém pode te ferir se você não permitir” proliferam em livros de autoajuda, palestras motivacionais e até mesmo em terapias superficiais. No entanto, essa visão, quando tomada como verdade absoluta, corre o risco de transformar-se em uma forma de alienação e narcisismo. Ela nos leva a ignorar que a vida não é uma experiência isolada, mas um tecido coletivo, marcado por relações e estruturas sociais que nos moldam e nos atravessam. Se cada pessoa passasse a viver apenas “no seu próprio mundo interno”, o que aconteceria com as dores compartilhadas, como o feminicídio, o racismo, o abuso infantil, a pobreza? Essas não são dores individuais, mas feridas coletivas. Quando falamos de violências estruturais, o silêncio e a indiferença são cumplicidade. Ignorar um morador de rua ou tratá-lo como invisível...
Dia desses ouvi um padre exorcista dizendo que suas experiências lidando com essas situações, levaram-no a compreender que a pessoa que estaria possuída, teria de alguma forma realizado a comunhão sem antes ter se confessado. Essa declaração me fez entrar em uma reflexão mais profunda sobre o que de fato acontece em uma confissão. Na minha percepção, no caso da religiosidade usar isso com ferramenta, existe uma intencionalidade de controle através do medo e da culpa. Mas refletindo mais profundamente nessa questão, outras culturas também valorizavam de alguma forma, o ato desse reconhecimento do erro como um caminho o que me levou a pensar quais dispositivos psicológicos, sociais, espirituais entram em ação quando de fato assumimos nosso erro? Fui criado em uma cultura que, com frequência, encara o erro como um desvio a ser punido, esquecido ou escondido. Desde a escola, aprendi que errar é fracassar, mas percebi, já adulto, enquanto professor de capoeira, que talvez o erro seja, ...