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Ciência, crença e os caminhos do meio

 Vivemos em um tempo em que a informação está amplamente disponível, mas nem sempre acompanhada de discernimento. Com isso, cresce tanto o ceticismo excessivo quanto o misticismo descontrolado. Neste cenário, levantar um olhar equilibrado sobre o que é ciência, o que são saberes complementares e como esses dois mundos se relacionam se torna essencial.


A ciência é um campo construído sobre observações, hipóteses, testes, análises e revisões. Ela busca caminhos que possam ser replicados independentemente de crença, cultura ou religião. Um choque elétrico, por exemplo, acontecerá da mesma forma com um muçulmano, um ateu ou um umbandista. Isso confere objetividade e utilidade universal ao conhecimento científico.


Por outro lado, práticas consideradas "não científicas" ou "holísticas", como massagens com aromaterapia, muitas vezes promovem bem-estar não apenas físico, mas também emocional e espiritual. Ainda que não passem pelos critérios rigorosos da ciência, sua eficácia pode ser percebida de forma subjetiva, e isso também importa — especialmente quando falamos de cuidado, afeto e acolhimento.


Muitas vezes, o termo “pseudociência” é usado para rotular saberes tradicionais, terapias alternativas ou abordagens integrativas. Porém, há uma diferença entre aquilo que não é científico e aquilo que se disfarça de ciência sem sê-lo. Práticas como astrologia ou homeopatia, por exemplo, não têm respaldo científico robusto, mas seguem sendo parte da experiência humana, podendo ter valor simbólico, emocional ou até placebo. É importante não confundir: nem tudo que não é científico é automaticamente charlatanismo.


É inegável que existem oportunistas em todos os campos — tanto entre os que exploram a fé e a vulnerabilidade das pessoas com promessas vazias, quanto entre cientistas ou instituições que, por interesse financeiro, produzem estudos tendenciosos para atender ao marketing de grandes indústrias. A integridade não é exclusiva de nenhum grupo, e o discernimento precisa ser praticado em todas as direções.


O mesmo vale para a saúde. Dizer que “é o corpo que se cura” não significa rejeitar a medicina ou os medicamentos, mas lembrar que grande parte do processo de cura envolve o próprio organismo. Um resfriado, por exemplo, tende a se resolver naturalmente, e o papel da medicina é aliviar sintomas, prevenir complicações e apoiar o processo biológico — o que é absolutamente necessário em muitos casos.


A fé cega na ciência também merece reflexão. A ciência não é uma entidade sagrada, e sua força está justamente na possibilidade de ser questionada. Ela não se sustenta por dogmas, mas por dados, testes e revisão contínua. Quando alguém defende a ciência como se fosse um credo absoluto, sem espaço para crítica ou revisão, está agindo com o mesmo espírito dogmático de uma religião — o que a própria ciência repudia.


Ao longo da história, várias ideias revolucionárias foram ridicularizadas ou perseguidas. Galileu foi condenado por afirmar que a Terra girava em torno do Sol. Darwin sofreu resistência ao propor a evolução das espécies. Muitos pensadores foram rejeitados em vida, e só mais tarde sua visão foi reconhecida. Hoje, ideias como a da Terra esférica são evidências sólidas, mas até mesmo isso precisa ser ensinado e compreendido criticamente, pois o excesso de desinformação já trouxe de volta, em alguns grupos, o terraplanismo.


O pensamento científico surge do espanto e da curiosidade — assim como a mitologia. Na Antiguidade, os raios eram atribuídos aos deuses. Hoje sabemos que são descargas elétricas, e usamos essa força em nossas casas, indústrias e até no cérebro, onde os impulsos elétricos regulam nossas emoções, memórias e decisões. Mas compreender o mecanismo não exclui o valor simbólico ou espiritual das coisas. Saber como algo funciona não significa saber tudo sobre o que aquilo representa.


No fim, talvez a sabedoria esteja mesmo no caminho do meio. Um caminho que valoriza o método científico, mas sem desdenhar do cuidado subjetivo. Que reconhece o valor da espiritualidade, mas sem fechar os olhos para os dados. Que entende que a razão e o afeto não são opostos — são aliados na construção de uma vida mais íntegra e consciente.

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